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    Prefeitura de Lages, SC


     

    A busca de especiarias, ouro, conversos e glória

    “TIERRA! Tierra!” Este grito jubilante quebrou o silêncio da vigília noturna do dia 12 de outubro de 1492. Um marinheiro do navio Pinta avistara o vago contorno duma ilha. A interminável viagem fora finalmente coroada de êxito para os navios Santa María, Pinta, e Niña.
    Assim que começou a amanhecer, Colombo, seus dois capitães e outros oficiais desembarcaram na praia. Deram graças a Deus e tomaram posse da ilha em nome dos monarcas da Espanha, Fernando e Isabel.
    O sonho de Colombo se realizara. Ele esperava então descobrir ouro (as argolas de nariz dos nativos, de ouro, não passaram despercebidas) e retornar triunfante à Espanha. Imaginava ter descoberto a rota ocidental para a Índia, de modo que a frustração dos últimos oito anos podia ser esquecida.

    O Sonho Se Concretiza

    No fim do século 15, havia grande demanda de duas mercadorias na Europa: ouro e especiarias. O ouro era necessário para a compra de artigos de luxo do Oriente, e as especiarias do Leste davam sabor às refeições insípidas nos longos meses de inverno. Os comerciantes europeus queriam ter acesso direto às terras onde tais mercadorias podiam ser adquiridas.
    Os mercadores e navegadores portugueses se atarefavam em estabelecer o monopólio comercial com a África, e, por fim, descobriram uma rota para o Oriente via África, contornando o Cabo da Boa Esperança. Nesse ínterim, as idéias do navegador italiano, Colombo, voltavam-se para o Oeste. Ele cria que a rota mais curta para a Índia, e suas cobiçadas especiarias, era cruzar o Atlântico.
    Durante exaustivos oito anos, Colombo foi de uma corte real para outra antes de, finalmente, obter o apoio do rei e da rainha da Espanha. Por fim, sua inabalável convicção venceu os hesitantes soberanos e os relutantes marujos. Os que duvidavam tinham seus motivos. O plano de Colombo tinha falhas, e ele insistia audaciosamente em ser nomeado “Grande Almirante do Oceano” e governador perpétuo de todas as terras que descobrisse.
    Mas as principais objeções se concentravam em seus cálculos. Nessa época, a maioria dos peritos não duvidava de que a Terra fosse redonda. A questão era: que distância oceânica separava a Europa da Ásia? Colombo supunha que Cipango, ou o Japão — sobre o qual lera no relato da viagem de Marco Pólo à China — ficasse a uns 8.000 quilômetros a oeste de Lisboa, Portugal. Assim, situou o Japão no atual Caribe.
    Devido em grande parte aos cálculos demasiadamente otimistas de Colombo a respeito da distância que separava a Europa do Extremo Oriente, as comissões reais tanto da Espanha como de Portugal consideraram desaconselhável a sua aventura. Pelo visto, não ocorreu a ninguém a possibilidade de que existisse um grande continente entre a Europa e a Ásia.
    Mas, Colombo, apoiado por amigos na corte espanhola, persistiu, e as coisas saíram a seu favor. A Rainha Isabel de Castela, católica fervorosa, sentiu-se atraída pela possibilidade de converter o Oriente à fé católica. Quando Granada foi conquistada pelos soberanos católicos, na primavera de 1492, o catolicismo tornou-se a religião de toda a Espanha. A ocasião parecia propícia para se arriscar algum investimento numa aventura que poderia render grandes dividendos, em termos religiosos e econômicos. Colombo obteve o consentimento real e o dinheiro que necessitava.

    Viagem ao Desconhecido

    Uma pequena frota de três navios foi rapidamente equipada, e, com uma tripulação de uns 90 homens, Colombo partiu da Espanha em 3 de agosto de 1492. Depois de se reabastecerem nas ilhas Canárias, no dia 6 de setembro, os navios rumaram para o oeste, a caminho da “Índia”.
    Foi uma viagem provadora para Colombo. Ventos favoráveis e desfavoráveis faziam as esperanças crescer e desvanecer-se sucessivamente. Apesar de avistarem aves marítimas, o que parecia promissor, o horizonte ocidental permanecia obstinadamente vazio. Colombo tinha de fortalecer constantemente a determinação de seus marinheiros com promessas de terra e riquezas. Quando estavam, segundo “cálculos pessoais” de Colombo, a uns 3.200 quilômetros Atlântico adentro, ele disse ao piloto que a distância era de 2.819 quilômetros. Daí, escreveu no diário de bordo: “Não revelei este dado [3.413 quilômetros] aos homens porque eles ficariam amedrontados de se encontrarem tão longe de casa.” (The Log of Christopher Columbus, traduzido para o inglês por Robert H. Fuson.) Muitas vezes, somente sua incansável determinação é que impediu os navios de retornarem.
    À medida que os dias se arrastavam, os marujos ficavam cada vez mais impacientes. “Minha decisão não agradou aos homens, pois continuam a murmurar e a se queixar”, escreveu Colombo. “Apesar dos resmungos, mantive o rumo oeste.” No dia 10 de outubro, após mais de um mês no mar, as queixas aumentavam em todos os três navios. Os marujos só sossegaram quando Colombo prometeu retornar pelo mesmo caminho se dentro de três dias não atingissem terra alguma. Entretanto, no dia seguinte, quando ergueram do mar um galho verde ainda com flores, a fé dos marujos no seu almirante reacendeu. E no amanhecer do outro dia (12 de outubro), os marujos, cansados do mar, refestelaram seus olhos com uma luxuriante ilha tropical. Sua momentosa viagem atingira o objetivo!

    Descoberta e Desapontamento

    As Baamas eram paradisíacas. Os nativos nus, escreveu Colombo, eram “pessoas de boa estatura, de corpos elegantes e de traços finos”. Mas, depois de saborearem por duas semanas os frutos tropicais e trocarem mercadorias com os amistosos habitantes, Colombo seguiu viagem. Estava à procura do ouro, do continente asiático, dos conversos e das especiarias.
    Alguns dias depois, Colombo chegou a Cuba. “Nunca vi nada tão belo”, comentou ele ao desembarcar na ilha. Antes, ele registrara em seu diário de bordo: “Agora tenho certeza de que Cuba é o nome índio de Cipango [Japão].” Assim, enviou dois representantes para contatar o Cã (o governante). Os dois espanhóis não encontraram nem ouro, nem japoneses, embora trouxessem de volta relatórios sobre um estranho hábito dos nativos: fumar tabaco. Colombo não se deixou intimidar. “Sem dúvida, há muitíssimo ouro neste país”, reafirmava a si mesmo.
    A odisséia prosseguiu, agora rumo ao leste. Descobriu uma grande ilha montanhosa perto de Cuba, à qual deu o nome de La Isla Española (Hispaníola). E, por fim, os espanhóis encontraram boa quantidade de ouro. Mas, dias depois, sobreveio-lhes um desastre. A nau capitânia Santa María encalhou num banco de areia e não conseguiu voltar a flutuar. Os nativos ajudaram voluntariamente a tripulação a salvar tudo o que fosse possível. “Eles amam o próximo como a si mesmos, e têm a voz mais suave e gentil do mundo, e estão sempre sorrindo”, disse Colombo.
    Colombo decidiu estabelecer uma pequena colônia na Hispaníola. Antes, ele comentara pouco auspiciosamente em seu diário de bordo: “Esta gente é muito inábil nas armas. . . . Com 50 homens poderiam ser todos subjugados e fazer tudo que se quisesse.” Visionou também uma colonização religiosa: “Tenho grande esperança em Nosso Senhor de que Vossas Majestades converterão todos eles ao cristianismo e todos eles pertencerão a vós.” Uma vez organizada a colônia num lugar que chamou La Villa de la Navidad, Colombo resolveu que ele e o restante de seus homens deviam retornar rapidamente à Espanha com as notícias de sua grande descoberta.

    Paraíso Perdido

    A corte espanhola ficou eufórica quando finalmente chegaram as notícias do descobrimento de Colombo. Ele foi coberto de honras e exortado a organizar uma segunda expedição, o mais breve possível. Nesse ínterim, os diplomatas espanhóis tomaram rapidamente medidas para assegurar-se junto ao papa espanhol, Alexandre VI, do direito de colonizar todas as terras descobertas por Colombo.
    A segunda expedição, em 1493, foi ambiciosa. Uma armada de 17 navios transportava 1.200 colonos, inclusive sacerdotes, agricultores e soldados — porém nenhuma mulher. A intenção era colonizar as novas terras, converter os nativos ao catolicismo, e, naturalmente, qualquer ouro ou quaisquer especiarias que fossem descobertos seriam muito bem-vindos. Colombo também tencionava prosseguir sua busca duma passagem marítima para a Índia.
    Embora fossem descobertas mais ilhas, inclusive Porto Rico e Jamaica, a frustração aumentou. La Navidad, a colônia original na Hispaníola, fora dizimada devido a amargos conflitos entre os próprios espanhóis, e depois foi quase destruída pelos ilhéus, enfurecidos diante da ganância e da imoralidade dos colonizadores. Colombo escolheu um local melhor para uma grande e nova colônia, e depois prosseguiu sua busca da rota para a Índia.
    Não conseguindo circunavegar Cuba, concluiu que devia ser o continente asiático — talvez a Malaia. Conforme declarado no livro The Conquest of Paradise (A Conquista do Paraíso), Colombo “decidiu que toda a tripulação deveria declarar sob juramento que a costa junto à qual vinham navegando . . . não era de modo algum a duma ilha, mas, de fato, ‘o continente do início das Índias’”. Ao retornar à Hispaníola, Colombo descobriu que os novos colonos não se haviam comportado melhor do que os anteriores, tendo estuprado mulheres e escravizado meninos. O próprio Colombo aumentou a animosidade por reunir 1.500 nativos e embarcar 500 deles para a Espanha como escravos; todos morreram em poucos anos.
    Duas outras viagens para as Índias Ocidentais não melhoraram a sorte de Colombo. O ouro, as especiarias e a passagem para a Índia, tudo isso o frustrou. Entretanto, de um modo ou de outro, a Igreja Católica conseguiu seus conversos. As habilidades administrativas de Colombo estavam bem aquém de seus dons de navegador, e a saúde precária tornou-o autocrático e até mesmo cruel para com os que o desagradavam. Os soberanos espanhóis viram-se obrigados a substituí-lo por um governador mais habilitado. Ele conquistou os oceanos, mas fracassou em terra firme.
    Pouco depois de completar sua quarta viagem, ele morreu aos 54 anos, rico, porém amargurado, ainda insistindo em que descobrira a rota marítima para a Ásia. Caberia à posteridade conferir-lhe a duradoura glória que ele tanto desejara durante toda a vida.
    Mas as rotas que ele traçou abriram o caminho para a descoberta e a colonização do inteiro continente norte-americano. O mundo mudara dramaticamente. Será que foi para melhor?

    Conflito de culturas

    UNS quinhentos anos atrás, numa pequena cidade no coração de Castela, diplomatas espanhóis contendiam com seus oponentes portugueses. No dia 7 de junho de 1494, chegaram a um acordo e foi assinado um tratado formal — o Tratado de Tordesilhas. Atualmente, centenas de milhões de pessoas no hemisfério ocidental falam ou espanhol ou português em resultado desse acordo.
    O tratado reafirmava as bulas papais do ano anterior, dividindo o mundo não explorado entre as duas nações ibéricas. Traçou-se uma linha longitudinal “370 léguas ao oeste das ilhas de Cabo Verde”. A Espanha podia colonizar e evangelizar as terras descobertas a oeste dessa linha (América do Norte e do Sul, com exceção do Brasil), e Portugal, toda terra ao leste (Brasil, África e Ásia).
    Munidos da bênção papal, Espanha e Portugal — com outras nações européias no seu rastro — empreenderam dominar os mares e depois o mundo. Cinqüenta anos após a assinatura do tratado, rotas de travessia dos oceanos haviam sido traçadas, os principais continentes haviam sido interligados e vastos impérios coloniais haviam começado a emergir. — Veja o quadro da página 8.
    As repercussões desta explosão de descobrimentos foram amplas. Sistemas comerciais e agrícolas foram revolucionados, e as divisões raciais e religiosas do mundo também foram transformadas. No entanto, foi o ouro que desencadeou esses eventos.

    Os Ventos do Comércio

    Colombo estava certo. O ouro estava bem ali, embora ele pessoalmente encontrasse muito pouco. Não demorou até que galeões passassem a transportar para a Espanha enormes quantidades de ouro e prata saqueadas da América. A riqueza, porém, era transitória. O influxo de vastas quantidades de metais preciosos resultou em desastrosa inflação, e o excesso de dinheiro facilmente obtido sabotou a indústria espanhola. Por outro lado, o ouro procedente das Américas promoveu o crescimento da economia internacional. Havia dinheiro disponível para se comprar mercadorias estrangeiras, que os navios levavam e traziam ao viajar pelos quatro cantos do mundo.
    No fim do século 17, podia-se encontrar prata peruana em Manila, seda chinesa na Cidade do México, ouro africano em Lisboa e peles americanas em Londres. Assim que os artigos de luxo abriram caminho, outros produtos de consumo tais como açúcar, chá, café e algodão passaram a cruzar os oceanos Atlântico e Índico em quantidades cada vez maiores. E os hábitos alimentares começaram a mudar.

    Novas Colheitas e Novos Tipos de Alimentos

    O chocolate suíço, as batatas irlandesas e a pizza italiana têm todos uma dívida para com os lavradores incas e astecas. O chocolate, as batatas e os tomates foram apenas três dos novos produtos que chegaram à Europa. Em muitos casos, as novidades de temperos, frutas e hortaliças levaram tempo para se tornarem populares, embora desde o início Colombo e seus homens se entusiasmassem com o abacaxi e a batata-doce. — Veja o quadro da página 9.
    Certas culturas do Oriente, tais como o algodão e a cana-de-açúcar, tornaram-se populares no Novo Mundo, ao passo que a batata sul-americana tornou-se, por fim, importante fonte de nutrição para muitas famílias europeias. Este intercâmbio de produtos agrícolas não proporcionou apenas maior variedade à cozinha internacional; resultou numa melhora fundamental da nutrição, o que contribuiu para o enorme crescimento da população mundial nos séculos 19 e 20. Mas houve um lado negro na revolução agrícola.

    Racismo e Repressão

    As novas culturas comerciais, tais como o algodão, o açúcar e o tabaco, podiam tornar ricos os colonos, contanto que tivessem suficiente mão-de-obra barata para trabalhar em suas terras. E a fonte óbvia de força de trabalho era a população nativa.
    Os colonos europeus, em geral, encaravam os nativos como nada mais que animais dotados da fala, um preconceito que foi usado para justificar a sua virtual escravização. Embora a bula papal de 1537 concluísse que os “índios” eram deveras “homens verdadeiros dotados de alma”, isto pouco adiantou para deter a exploração. Conforme salientou um recente documento do Vaticano, “a discriminação racial começou com a descoberta da América”.
    O tratamento severo, junto com a propagação de “doenças européias”, dizimou a população das Américas. Chegou a diminuir em 90 por cento, segundo certos cálculos, no espaço de cem anos. No Caribe, os nativos foram quase exterminados. Quando o povo local não mais podia ser recrutado, os proprietários de terras procuraram outra fonte de trabalhadores agrícolas fortes e saudáveis. Os portugueses, que estavam bem estabelecidos na África, ofereceram uma solução sinistra: o comércio de escravos.
    Mais uma vez, o preconceito racial e a ganância infligiram terrível tributo de sofrimento. Até o fim do século 19, comboios de navios negreiros (principalmente britânicos, franceses, holandeses e portugueses) já haviam transportado provavelmente mais de 15 milhões de escravos africanos para as Américas!
    Com suas implicações raciais, não é de surpreender que os nativos do continente americano sintam-se profundamente ressentidos com a descoberta da América pelos europeus. Certo índio norte-americano declarou: “Colombo não descobriu os índios. Nós o descobrimos.” De modo similar, os índios mapuche, do Chile, protestam que ‘não houve um descobrimento real ou uma evangelização autêntica, mas, antes, uma invasão de seu território ancestral’. Como dá a entender este comentário, a religião não estava isenta de culpa.

    A Colonização Religiosa

    A colonização religiosa do Novo Mundo andou de mãos dadas com a colonização política. Assim que uma região era conquistada, a população nativa era forçada a tornar-se católica. Como explica o sacerdote e historiador católico Humberto Bronx: “De início, batizavam sem nenhuma instrução oral, praticamente à força. . . . Templos pagãos eram convertidos em igrejas cristãs ou em mosteiros; ídolos eram substituídos por cruzes.” Não é de admirar que tal “conversão” arbitrária resultasse numa peculiar combinação da adoração católica com a adoração tradicional, que continua existindo até hoje.
    Após a conquista e as “conversões”, a obediência à Igreja e a seus representantes foi estritamente imposta, especialmente no México e no Peru, onde a Inquisição foi estabelecida. Alguns clérigos sinceros protestaram contra os métodos não-cristãos. O frade dominicano Pedro de Córdoba, testemunha ocular da colonização da ilha de Hispaníola, lamentou: “Com gente tão boa, obediente e gentil, se tão-somente os pregadores se introduzissem sem a força e a violência desses deploráveis cristãos, creio que se poderia fundar uma igreja tão boa como a primitiva.”

    Diferente, mas Não Tão Novo

    Alguns encaram o descobrimento, a colonização e a conversão da América como o “encontro de duas culturas”. Outros os encaram como “exploração”, ao passo que alguns os condenam veementemente como “estupro”. Seja qual for a forma que encaramos isso, foi sem dúvida o início duma nova era, uma era de crescimento econômico e desenvolvimento técnico, apesar de à custa dos direitos humanos.
    Foi o navegador italiano Américo Vespúcio que, em 1505, cunhou o termo “Novo Mundo” para descrever o novo continente. Sem dúvida, muitos aspectos eram novos, mas os problemas fundamentais do Velho Mundo também eram endêmicos no Novo Mundo. As tentativas fúteis de tantos conquistadores espanhóis de encontrar o lendário Eldorado, lugar de ouro e de abundância, revelam que as aspirações humanas não foram satisfeitas com a descoberta dum novo continente. Serão tais aspirações algum dia satisfeitas?
    O desejo de evangelizar o Novo Mundo foi até mesmo usado para justificar a força militar. Francisco de Vitória, destacado teólogo espanhol da época, argumentou que uma vez que os espanhóis estavam autorizados pelo papa a pregar o evangelho no Novo Mundo, estavam justificados a guerrear com os índios para defender e estabelecer esse direito.

    Plantas Que Modificaram os Cardápios do Mundo

    O DESCOBRIMENTO da América revolucionou os hábitos alimentares do mundo. Houve um rápido intercâmbio de produtos agrícolas entre o Velho e o Novo Mundo, e muitas plantas cultivadas pelos incas e pelos astecas acham-se atualmente entre os mais importantes produtos agrícolas do mundo.
    Batata. Quando os espanhóis chegaram ao Peru, a batata era a base da economia inca. A batata também crescia bem no hemisfério norte, e, dentro de dois séculos, tornara-se o principal alimento de muitos países europeus. Alguns historiadores até mesmo atribuem a este humilde, porém nutritivo, tubérculo o crescimento populacional que acompanhou a revolução industrial na Europa.
    Batata-Doce. Colombo se deparou com batatas-doces em sua primeira viagem. Ele as descreveu como um tanto parecidas a “grandes cenouras”, com o “sabor característico das castanhas”. Atualmente, a batata-doce é o principal alimento para milhões de pessoas de grande parte da Terra.
    Milho. O cultivo do milho era tão importante para os astecas que eles o encaravam como símbolo da vida. Atualmente, o milho só perde para o trigo em termos de hectares plantados no mundo.
    Tomate. Tanto os astecas como os maias cultivavam o xitomatle (chamado mais tarde de tomatl). No século 16, o tomate era cultivado na Espanha e na Itália, onde o gaspacho, as massas e a pizza tornaram-se alimentos favoritos. Entretanto, outros europeus só ficaram convencidos de suas propriedades nutritivas no século 19.
    Chocolate. O chocolate era a bebida favorita do governante asteca Montezuma II. Na época em que Cortés chegou ao México, as sementes de cacau, das quais se extraía o chocolate, eram tidas em tão alto valor, que eram usadas como dinheiro. No século 19, quando o açúcar e o leite foram adicionados para melhorar o sabor, o chocolate tornou-se campeão internacional de vendas, como bebida ou como petisco em forma de tabletes.

    Colombo, Precursor da Era dos Descobrimentos

    OS 50 ANOS que se seguiram ao descobrimento da América por Colombo presenciaram a transformação do mapa do mundo. Marinheiros espanhóis, portugueses, italianos, franceses, holandeses e ingleses, na busca de novas rotas para o Oriente, descobriram novos oceanos e novos continentes. Em 1542, apenas os continentes da Austrália e da Antártida não tinham sido descobertos.

    América do Sul. Primeiro Colombo, e logo depois Ojeda, Vespúcio e Coelho mapearam a costa da América Central e do Sul (1498-1501).

    América do Norte.
    Cabot descobriu Terra Nova em 1497, e Verrazano foi o primeiro a navegar ao longo da costa leste da América do Norte, em 1524.

    A Circunavegação do Mundo.
    Foi realizada pela primeira vez por Magalhães e Elcano, que também descobriram as Filipinas após uma viagem épica através do vasto oceano Pacífico (1519-1522).

    A Rota Marítima Para a Índia Via Cabo da Boa Esperança.
    Após contornar a extremidade sul da África, Vasco da Gama chegou à Índia em 1498.

    O Extremo Oriente. 
    Os marinheiros portugueses chegaram à Indonésia por volta de 1509, à China por volta de 1514, e ao Japão em 1542.

    O verdadeiro novo mundo a ser descoberto

    “UM NOME é algo incerto, não se pode confiar nele!” Esta observação sensata revelou-se veraz no caso de Colombo.
    Em harmonia com o significado de seu primeiro nome, Cristóvão, Colombo realmente tentou ser uma espécie de “Portador de Cristo”. Afinal, os soberanos espanhóis o haviam enviado a “serviço de Deus e da expansão da fé católica”. Mas, depois de ensinar alguns nativos, que nada compreendiam, a fazer o sinal-da-cruz e a entoar a Ave-Maria, ele se concentrou em recompensas mais tangíveis: achar ouro e a esquiva rota para a Índia.
    Todavia, alguns católicos têm argumentado que Colombo devia ser declarado “santo” devido ao seu papel fundamental em estender as fronteiras da cristandade. Mas as “conversões” em massa, que se seguiram aos descobrimentos, pouco contribuíram para levar o autêntico Jesus Cristo para os povos do Novo Mundo. O cristianismo genuíno sempre se expandiu por meios pacíficos, não pela espada. O emprego da força para difundir o evangelho constitui flagrante contradição daquilo que Jesus ensinou. — Veja Mateus 10:14; 26:52.
    Colombo (do espanhol: Colón) teve um pouco mais de êxito em fazer jus ao sobrenome, que significa “colonizador”. Foi ele quem fundou as primeiras duas colônias européias no Novo Mundo. Embora não dessem em nada, outras logo foram estabelecidas. A colonização das Américas avançou rapidamente, mas não foi de modo algum feliz, especialmente para os colonizados.
    O frade dominicano Bartolomé de las Casas, que testemunhou a colonização inicial das Índias Ocidentais, protestou a Filipe II, rei da Espanha, contra ‘a imitação distorcida da justiça à qual essas pessoas inocentes são sujeitas, destruindo-as e despedaçando-as sem justa causa ou motivo, além da ganância e da ambição que movem aqueles que cometem tais maldades’.
    Embora os piores abusos fossem corrigidos mais tarde, a motivação egoísta e os métodos impiedosos continuaram a ditar os planos de ação. Não é de admirar que tal governo se tenha tornado odioso. No século 20, a maioria dos países das Américas já se havia livrado do jugo colonial.
    Converter continentes à cristandade e administrar um governo justo sobre miríades de tribos e línguas é reconhecidamente uma tarefa difícil. E seria injusto culpar Colombo por todas as falhas do imenso empreendimento que ele inconscientemente iniciou ao atravessar o oceano, e começar o que alguns chamam de “Encontro de Dois Mundos”.
    Conforme salienta Kirkpatrick Sale em seu livro The Conquest of Paradise (A Conquista do Paraíso), “seguramente houve certa vez uma oportunidade, uma possibilidade de os povos da Europa encontrarem um novo ancoradouro num novo país, que eles vagamente imaginavam ser a terra do Paraíso”. Mas, uma coisa é descobrir um novo mundo; outra coisa bem diferente é criar um novo mundo. Essa não foi a primeira vez que tentativas de se construir um novo mundo fracassaram.

    Outra Viagem Épica

    Dois mil anos antes de Colombo singrar os mares, cerca de duzentas mil pessoas empreenderam uma outra viagem épica. Em vez de atravessarem um oceano, possivelmente atravessaram um deserto. Também rumavam para o oeste, em direção à sua pátria, Israel, que a maioria nunca havia visto. Seu objetivo era estabelecer um novo mundo, para eles mesmos e para seus filhos.
    Sua jornada, saindo do cativeiro babilônico, cumpria profecias. Duzentos anos antes, o profeta Isaías predissera sua repatriação: “Eis que [eu, o Soberano Senhor Jeová,] crio novos céus e uma nova terra; e não haverá recordação das coisas anteriores, nem subirão ao coração.” — Isaías 65:13, 17.
    Os ‘novos céus e nova terra’ eram termos simbólicos, descritivos, que se referiam a uma nova administração e a uma nova sociedade de pessoas. Estas eram necessárias, pois um novo mundo real requer muito mais do que um novo território para se colonizar; exige um espírito novo e altruísta entre os governantes e os governados.
    Poucos dos judeus que retornaram de Babilônia tinham tal espírito. Apesar de certo êxito inicial, cerca de cem anos após o retorno, o profeta hebreu Malaquias descreveu, com tristeza, como o egoísmo e a ganância se haviam tornado forças dominantes no país. (Malaquias 2:14, 17; 3:5) Uma oportunidade ímpar de se construir um novo mundo para os judeus fora desperdiçada.

    Um Novo Mundo Ainda nos Aguarda

    Contudo, os fracassos do passado não significam que não haja esperança de se construir um novo mundo. No livro de Revelação (Apocalipse), o apóstolo João, ecoando as palavras de Isaías, descreve o seguinte cenário comovente: “Eu vi um novo céu e uma nova terra; pois o céu anterior e a terra anterior tinham passado . . . E enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem clamor, nem dor. As coisas anteriores já passaram.” — Revelação 21:1, 4.
    Estas palavras nos asseguram de que o próprio Deus está determinado a estabelecer um novo governo sobre toda a Terra e uma nova sociedade de pessoas que reagirão favoravelmente ao Seu governo. Os benefícios serão incalculáveis. Será um autêntico novo mundo.
    Um novo mundo estabelecido por Deus pode parecer algo irreal. Mas a convicção de Colombo, de que havia continentes a oeste, também parecia incrível a muitos de seus contemporâneos. A descrição do novo mundo prometido de Deus também pode soar muito improvável, contudo quantos eruditos do século 15 podiam imaginar que um terço da massa continental da Terra era desconhecida à ciência?
    O desconhecimento científico nos dias de Colombo fez com que o descobrimento do Novo Mundo parecesse muitíssimo improvável. O desconhecimento dos propósitos de Deus e de seu poder podem igualmente demolir a confiança em Seus prometidos novo céu e nova terra. Mas o Deus Todo-Poderoso prossegue sua descrição, dizendo: “Eis que faço novas todas as coisas. . . . Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” — Revelação 21:5.
    Sem dúvida, toda a humanidade anseia alguma espécie de novo mundo. O escritor mexicano Carlos Fuentes comentou certa vez: “Utopia é algo do passado e do futuro. Por um lado, é a memória dum mundo melhor que certa vez existiu, mas não existe mais. Por outro lado, é a esperança de que este mundo melhor, mais justo e mais pacífico, existirá algum dia.” Os que estudam a Bíblia confiam que um mundo melhor — não uma utopia fictícia — realmente existirá, porque Deus prometeu e porque Deus é capaz de realizá-lo. — Mateus 19:26.

    Um Novo Mundo no Horizonte

    Quando Colombo tentava convencer sua tripulação de que se aproximavam de terra firme, era preciso ter mais do que fé. Ele necessitava de alguma prova tangível. Vegetação nova flutuando no mar, uma quantidade cada vez maior de aves terrestres e, finalmente, um galho com flores flutuando à deriva restabeleceram a confiança dos marinheiros em seu almirante.
    Hoje em dia, também existe evidência de que nos aproximamos dum novo mundo. O fato de que, pela primeira vez na história, a sobrevivência da humanidade corre perigo lembra-nos de que a paciência de Deus com o governo humano deve estar-se esgotando. Ele prometeu há muito tempo “arruinar os que arruínam a terra”. (Revelação 11:18) A ganância e o egoísmo geraram inúmeros problemas globais insolúveis, problemas que a Bíblia descreveu vividamente, de antemão, como eventos que indicariam a iminente intervenção de Deus.
    Quando Colombo pisou pela primeira vez na ilha de Cuba, quinhentos anos atrás, ele alegadamente exclamou: “Eu gostaria de viver aqui para sempre!” Os que entrarem no novo mundo de Deus terão exatamente o mesmo desejo. E, dessa vez, esse desejo será concedido.

    Fonte: (Despertai 08/03/1992)