Doe

    Prefeitura de Lages, SC


     

    As Florestas Pluviais Sob Ataque

    O homem está devastando as florestas pluviais da Terra.

    Todavia, estas florestas são importantíssimas para a vida neste planeta. Elas são lindas fábricas silenciosas — produtoras de oxigênio, de alimentos e de inumeráveis coisas vivas. Caso todas as florestas fossem destruídas, a vida na Terra sofreria incomensuravelmente. E elas estão desaparecendo rápido! “Só Deus pode fazer uma árvore”, escreveu um poeta. É verdade. Mas ninguém as destrói tão rápido como faz o homem.

    Desaparecem em um segundo!

    Você caminha por um reino verde crepuscular, entre colunas de sustentação de árvores que ascendem a uma altura equivalente a um prédio de 15 andares. Sobre sua cabeça paira amplo emaranhado de vida, a mais densa, a mais rica ecosfera existente sobre a Terra. As árvores estão cobertas de trepadeiras, que têm dezenas ou até centenas de metros de comprimento e são coroadas de plantas presas a todo o seu tronco e ramos. Flores tropicais luxuriantes perfumam o ar parado, quente e úmido.
    Esta é a floresta pluvial tropical. Mas é mais do que um belo lugar, mais do que corredores abobadados de floresta enevoada, na qual só penetram os feixes de luz. Trata-se dum mecanismo dotado de incrível complexidade, cujas partes operam juntas com intensa precisão.
    Há profusão de vida aqui, uma variedade inigualada em qualquer outra parte da superfície terrestre de nosso planeta. As florestas pluviais ocupam apenas 6 por cento da área terrestre da Terra, mas possuem até a metade de todas as espécies vegetais e animais. Produzem cerca de um terço de toda a matéria viva do solo. Bem acima de você, o dossel da floresta serve de lar de insetos e de aves exóticas, de macacos e de outros mamíferos. A maioria jamais desce até o chão. As árvores os alimentam e abrigam, e eles, por sua vez, polinizam as árvores ou comem seus frutos, espalhando as sementes por meio de seus dejetos.
    Chove torrencialmente todo dia, ensopando as florestas e alimentando seu elaborado ciclo de vida. A chuva lava as folhas e carrega os resíduos tronco abaixo, formando uma sopa rica em nutrientes que sustenta as plantas chamadas epífitas, que crescem nas árvores. As plantas epífitas, por sua vez, ajudam a árvore a extrair do ar seu principal alimento, o nitrogênio. Muitos epífitos possuem reservatórios folhosos que retêm litros de água, criando pequenas lagoinhas elevadas no ar que constituem o habitat de rãs, salamandras e aves que vivem na árvore.
    Qualquer nutriente que atinja o solo da floresta é rapidamente consumido. Mamíferos, nuvens de insetos e bactérias trabalham em conjunto para reduzir as nozes, as carcaças de animais e a folhagem ao nível de matéria residual. Daí o próprio solo ansiosamente a recebe. Se varresse os resíduos que estão a seus pés, encontraria uma esteira espessa e esponjosa de fibras brancas, um emaranhado de raízes e fungos. Estes fungos ajudam as raízes a absorver rapidamente os nutrientes, antes de as chuvas os levarem embora.
    Mas, suponhamos agora que seu passeio pela floresta pluvial se limitasse a uma pequena parte, uma área um pouco menor que a dum campo de futebol. Subitamente, essa inteira seção da floresta desaparece. É inteiramente destruída — num só segundo! E, à medida que observa, horrorizado, a área próxima a você, do mesmo tamanho, é extirpada no segundo seguinte, e mais outra no próximo, e assim por diante. Por fim, está sozinho numa planície deserta, sobre um solo tostado duramente pelo reluzente sol tropical.
    Segundo alguns cálculos, é tão rapidamente assim que as florestas pluviais equatoriais do mundo estão sendo destruídas. Alguns fixam a taxa ainda mais alto. De acordo com a revista Newsweek, uma área equivalente à metade da Califórnia, EUA, é arrasada anualmente. A revista Scientific American, de setembro de 1989, diz ser uma área do tamanho da Suíça e dos Países-Baixos combinados.
    Mas, seja qual for a extensão, os danos são assustadores. O desmatamento tem suscitado um clamor global, e se focaliza notadamente em um único país.

    Um Caso em Pauta: o Brasil

    Em 1987, fotos da bacia amazônica, tiradas por satélites, mostravam que as taxas de desmatamento desta única área eram maiores do que alguns cálculos anteriores sobre o desmatamento em todo o planeta! À medida que as pessoas incendiavam a floresta para abrir clareiras, milhares de fogueiras iluminavam as noites. A nuvem de fumaça tinha o tamanho da Índia, e era tão densa que alguns aeroportos tiveram de fechar. Segundo certo cálculo, a bacia amazônica perde, todo ano, uma área da floresta pluvial do tamanho da Bélgica.
    O ambientalista brasileiro José Lutzenberger chamou isso de “o maior holocausto na história da vida”. Em todo o mundo, os ambientalistas se revoltaram contra isso. Puseram em foco a condição calamitosa das florestas pluviais. Até mesmo camisetas e concertos de rock proclamavam: “Save the rain forest.” (Salve a floresta pluvial.) Daí veio a pressão financeira.
    O Brasil tem uma dívida externa de mais de cem bilhões de dólares e precisa despender cerca de 40 por cento de seus superávits comerciais apenas para pagar os juros. Depende grandemente de ajuda e de empréstimos externos. Assim, os bancos internacionais começaram a reter empréstimos que pudessem ser utilizados para prejudicar as florestas. As nações desenvolvidas ofereceram-se a trocar parte da dívida externa do Brasil pela proteção aprimorada de seu meio ambiente. O presidente Bush, dos EUA, chegou até a pedir ao Japão que não emprestasse fundos ao Brasil para a construção duma rodovia que passaria por florestas pluviais virgens.

    Um Dilema Global

    Para muitos brasileiros, toda esta pressão tem um ranço de hipocrisia. Os países desenvolvidos há muito dizimaram suas próprias florestas e dificilmente permitiriam que qualquer potência estrangeira os impedisse de fazer isso. Os Estados Unidos estão, atualmente, acabando com as últimas de suas próprias florestas pluviais. Não são equatoriais, certamente; são as florestas pluviais temperadas da região noroeste da costa do Pacífico. Há espécies que também desaparecerão ali.
    Assim, o desmatamento é um problema global, e não apenas brasileiro. As perdas ocorridas nas florestas pluviais equatoriais são as mais críticas atualmente. Mais da metade de tais perdas acontecem fora do Brasil. A África Central e o Sudeste da Ásia são as outras duas regiões de florestas pluviais, dentre as maiores do mundo, e ali as florestas também estão desaparecendo rápido.
    O desmatamento tem efeitos que são igualmente globais. Significa fome, sede e morte entre milhões. Trata-se dum problema que atinge bem a sua vida. Abrange o alimento que ingere, os remédios que usa, o clima em que vive — talvez até mesmo o futuro da humanidade.
    Mas, você bem que poderá pensar: ‘Como podem estas florestas pluviais ter tão amplos efeitos? Que acontecerá se elas realmente desaparecerem em questão de algumas décadas, como alguns peritos afirmam que desaparecerão? Será realmente uma tragédia tão grande assim?’
    Antes de podermos responder a tais perguntas, outra tem de vir primeiro: Já de início, o que provoca a destruição das florestas pluviais?

    Quem está destruindo as florestas pluviais?

    Essa pergunta é geralmente respondida por se culpar os pobres do mundo. Durante séculos, os camponeses nos países tropicais cultivaram o solo por meio da lavoura que empregava as derrubadas e queimadas. Eles derrubavam um trecho da floresta e o queimavam, e, quer pouco antes, quer logo depois da queimada, plantavam suas sementes. As cinzas da floresta proviam os nutrientes para as plantações.
    Este tipo de lavoura há muito revelou uma surpreendente verdade sobre as florestas pluviais equatoriais. Cerca de 95 por cento delas crescem em solos muito pobres. A floresta recicla os nutrientes tão rapidamente que eles se mantêm notadamente nas árvores e na vegetação bem acima do solo, protegidos das chuvas que os levariam embora do solo. A floresta pluvial, por conseguinte, é perfeitamente adequada para o seu meio ambiente. As notícias não são tão boas para o lavrador.

    A Difícil Situação dos Pobres

    Depressa demais, as chuvas carregam os nutrientes deixados pelas cinzas da floresta queimada. Lentamente, a lavoura se torna um pesadelo. Eis como se expressou um pobre lavrador boliviano: “No primeiro ano, eu cortei as árvores e as queimei. E o milho cresceu alto e doce no meio das cinzas, e todos nós pensávamos que, finalmente, tínhamos conseguido vencer. . . . Mas, desde então, as coisas vão mal. O solo se torna cada vez mais seco, e não produz coisa alguma, a não ser ervas daninhas. . . . E as pragas? Nunca vi tantas espécies delas. . . . Nós estamos quase que acabados.”
    Em épocas passadas, o lavrador simplesmente derrubava novos trechos da floresta e deixava o velho trecho em repouso. Uma vez a floresta retornasse aos trechos anteriores, podia ser derrubada de novo, vez após vez. Para este processo dar certo, porém, os trechos abertos têm de estar cercados pela floresta original, de modo que insetos, aves e animais possam espalhar as sementes e polinizar as novas plantinhas. Isto leva tempo.
    A explosão demográfica também modificou as coisas. Havendo um grande número de lavradores numa mesma área, os períodos de descanso do solo tornam-se cada vez mais abreviados. Não raro, lavradores migrantes simplesmente exaurem suas terras em poucos anos, e se mudam mais para o interior da floresta, queimando-a numa frente ampla.
    Ainda outro fator agrava a situação. Cerca de dois terços das pessoas, nos países em desenvolvimento, dependem de lenha como combustível para cozinhar e aquecer-se. Mais de um bilhão de pessoas só conseguem suprir suas necessidades de combustível por cortarem madeira mais rápido do que ela está sendo substituída atualmente.

    Causas Mais Profundas

    É fácil culpar os pobres. Mas, como os ecologistas James D. Nations e Daniel I. Komer se expressam, isso é como “culpar os soldados de terem provocado as guerras”. Acrescentam eles: “São meros peões no jogo do general. Para compreender o papel dos colonos no desmatamento, a pessoa precisa perguntar por que, inicialmente, estas famílias penetram na floresta pluvial. A resposta é simples: Não existe terra para elas em outro lugar.”
    Em um país tropical, meros 2 por cento dos latifundiários detêm cerca de 72 por cento das terras. No ínterim, cerca de 83 por cento das famílias de lavradores não dispõem de suficientes terras para sobreviverem, ou não têm terra alguma. Esse padrão se repete em diversos graus através do globo. Imensidões de terras de propriedade particular são usadas, não para produzir alimentos para o povo local, mas para produzir colheitas exportáveis, a serem vendidas às nações ricas, nas zonas temperadas.
    A indústria madeireira é outra famosa culpada. Além dos danos diretos causados à floresta, a extração de madeira também torna as florestas pluviais mais vulneráveis a incêndios — e a humanos. Estradas abertas por tratores para a extração de madeira numa floresta virgem pavimentam o caminho para as multidões de lavradores migrantes avançarem por elas.
    E, quando os sítios fracassam, como, os criadores de gado compram as terras e as transformam em pastos, para alimentar o gado. Isto se dá especialmente na América Central e do Sul. A maior parte da carne do gado bovino criado é exportada para as nações mais ricas. O gato doméstico mediano, nos Estados Unidos, come mais carne de vaca num ano do que o habitante mediano da América Central.
    No fim, são as nações desenvolvidas que financiam a devastação das florestas pluviais equatoriais — para satisfazer seus próprios apetites vorazes. As madeiras tropicais exóticas, os produtos, a carne de vaca, que elas compram avidamente das nações tropicais, todos exigem a substituição, ou a devastação das florestas. A gula dos americanos e dos europeus por cocaína tem significado o desmatamento de centenas de hectares das florestas pluviais no Peru, para dar lugar às lucrativas plantações de coca.

    Lucros Amargos

    Muitos governos promovem ativamente o desmatamento. Eles fornecem incentivos fiscais para os criadores de gado, para as companhias madeireiras, e para a lavoura de exportação. Há nações que fornecem terras para o lavrador se ele as “melhora” pelo desmatamento. Certo país do Sudeste da Ásia tem transferido colonos migrantes aos milhões para suas remotas florestas pluviais.
    Tal política é defendida como a utilização das florestas em benefício dos pobres, ou como promoção de economias em declínio. Mas, do modo como os críticos a encaram, até mesmo estes lucros a curto prazo são ilusórios. Por exemplo, a terra que se mostrou inóspita para as plantações do colono talvez não seja mais amigável para com o gado do criador. Fazendas de criação de gado são comumente abandonadas depois de dez anos.
    A indústria madeireira com freqüência não se sai melhor. Uma vez extraídas da floresta as madeiras de lei, sem se pensar no futuro, as florestas diminuem rapidamente. O Banco Mundial calcula que mais de 20 dentre 33 países, que atualmente exportam sua madeira tropical, a esgotarão dentro de dez anos. A Tailândia ficou tão dramaticamente desmatada que teve de proibir toda a extração de madeira. Calcula-se que as Filipinas ficarão inteiramente sem madeira a extrair por volta de meados da década de 90.
    A mais amarga ironia, porém, é a seguinte: Há estudos que demonstram que uma área da floresta pluvial pode gerar mais renda se deixada intacta, colhendo-se os seus produtos — suas frutas e a borracha, por exemplo. Sim, dá mais dinheiro do que a lavoura, a criação de gado, ou a extração de madeira nessas mesmas terras. Todavia, a destruição prossegue.
    O globo não pode suportar tal tratamento para sempre. Como se expressa o livro Saving the Tropical Forests (Salvando as Florestas Tropicais): “Se continuarmos a presente destruição, a questão não é se a floresta pluvial desaparecerá, mas quando.” Mas, será que o mundo realmente sofreria se todas as florestas pluviais fossem destruídas?

    Por que salvar as florestas pluviais?

    A MULTIDÃO está assistindo a uma partida de futebol e está torcendo tremendamente. Gostariam que a partida durasse para sempre. Mas persistem em atirar nos jogadores. Um a um, os mortos são retirados do campo. A multidão fica enraivecida quando a partida diminui de passo.
    O desmatamento é quase a mesma coisa. Os humanos apreciam as florestas, dependem delas, efetivamente. Mas continuam destruindo o equivalente aos jogadores: as espécies específicas de plantas e de animais, cuja complexa interação é o que mantém viva a floresta. Trata-se, porém, de mais do que um jogo. O desmatamento o atinge. Influi na sua qualidade de vida, mesmo que jamais tenha visto uma floresta pluvial.
    É a tremenda variedade de coisas vivas, que os cientistas chamam de biodiversidade, que alguns argumentam ser a maior vantagem das florestas pluviais. Em meio quilômetro quadrado da floresta pluvial da Malásia talvez cresçam cerca de 835 espécies de árvores, mais do que nos Estados Unidos e no Canadá somados.
    Mas, este complexo luxuriante de vida é frágil. Um cientista comparou as espécies específicas a rebites dum avião. Quanto mais rebites se desprenderem, tanto mais outros começarão a cair, sob a tensão aumentada. Se tal comparação for válida, nosso planeta é um “avião” em dificuldades. À medida que as florestas pluviais diminuem, alguns calculam que se perdem anualmente cerca de dez mil espécies de plantas e de animais, que a taxa de extinção é atualmente cerca de 400 vezes mais rápida do que em qualquer outra época da história deste planeta.
    Os cientistas lamentam a evidente perda de conhecimento oriundo desta queda da biodiversidade. Afirmam que é como queimar uma biblioteca antes de ter lido seus livros. Mas, existem outras perdas mais tangíveis também. À guisa de exemplo, cerca de 25 por cento dos remédios prescritos nos Estados Unidos baseiam-se em plantas das florestas tropicais. Um de tais remédios elevou a taxa de remissão de leucemia infantil, de 20 por cento, na década de 60, para 80 por cento, em 1985. Assim, segundo o Fundo Mundial de Vida Selvagem, as florestas pluviais “representam ampla farmácia”. E incontáveis plantas ainda não foram sequer descobertas, quanto mais examinadas para uma possível utilização na medicina.
    Ademais, poucos de nós compreendem quantas de nossas safras de alimentos derivam-se de plantas que eram, originalmente, encontradas nas florestas pluviais. (Veja quadro na página 11.) Até o dia de hoje, os cientistas colhem genes das variedades robustas destas plantas, que crescem nas florestas, e os utilizam para aumentar a resistência às doenças em seus descendentes mais frágeis, as variedades domésticas. Desse modo, os cientistas têm poupado centenas de milhões de dólares, evitando a perda de colheitas.
    Ademais, não sabemos que alimentos oriundos das florestas pluviais podem ainda surgir como favoritos globais. A maioria dos norte-americanos não sabe que, há apenas cem anos, seus antepassados consideravam a banana uma fruta estranha e exótica, e pagavam dois dólares por uma banana, em embalagem individual.

    O Quadro Global

    O próprio homem é a derradeira vítima do desmatamento. Os efeitos disso sobre o meio ambiente global prosseguem até circularem o mundo. Como? Vamos dar mais uma espiada na típica floresta pluvial. Como o nome subentende, a chuva é sua notável característica. Podem cair, num só dia, mais de 200 milímetros, mais de 9.000 milímetros num ano! A floresta pluvial acha-se perfeitamente projetada para receber esta chuva torrencial.
    O dossel reduz a força das gotas de chuva, de modo que não possam levar embora o solo. Muitas folhas são dotadas de pontas alongadas, ou pontas de gotejamento, que rompem as gotas mais pesadas. Assim, a chuva forte é reduzida a contínuo gotejamento, que cai ao solo lá embaixo com impacto amainado. As pontas também permitem que as folhas deixem a água escorrer rapidamente, de modo que possam retornar à transpiração, devolvendo a umidade à atmosfera. Os sistemas de raízes sugam 95 por cento da água que atinge o solo florestal. Como um todo, a floresta absorve a precipitação pluvial como uma gigantesca esponja, e então a libera paulatinamente.
    Mas, uma vez desaparecida a floresta, a chuva cai direto e pesadamente sobre o solo exposto, e arrasta toneladas dele. Por exemplo, na Côte d’Ivoire, África Ocidental, um hectare de floresta pluvial equatorial ligeiramente inclinado perde apenas cerca de três centésimos de uma tonelada de solo por ano. O mesmo hectare, se desmatado e cultivado, perde 90 toneladas de solo por ano; se for solo sem vegetação, 138 toneladas.
    Esse tipo de erosão do solo faz mais do que devastar o solo para a lavoura ou a criação de gado. Ironicamente, as próprias represas, que provocam colossais doses de desmatamento, são danificadas com isso. Cheias de sedimentos que os rios levam das áreas desmatadas, elas rapidamente ficam obstruídas e se tornam inúteis. As regiões costeiras e os locais de desova também são prejudicados com o excesso de sedimentos.
    Os efeitos sobre os padrões de chuva e de clima são ainda mais desastrosos. Os rios que fluem das florestas pluviais equatoriais geralmente apresentam cheias o ano todo. Mas sem a floresta para regular o fluxo de água que deságua nos rios, eles sofrem enchentes com as chuvas súbitas e então sofrem secas. Surge um ciclo de enchentes e de secas. Os padrões de chuva podem ser afetados por milhares de quilômetros ao redor, uma vez que a floresta pluvial, através da transpiração, contribui com até a metade da umidade da atmosfera local. Assim, o desmatamento pode ter contribuído tanto para as enchentes em Bangladesh como para as secas na Etiópia, que mataram tantas pessoas, na última década.
    Mas o desmatamento pode também influir no clima de todo o planeta. As florestas pluviais tem sido chamadas de pulmão verde da Terra, porque retiram o bióxido de carbono do ar, e utilizam o carbono para formar troncos, e ramos, e a casca. Quando uma floresta é queimada, todo esse carbono é lançado na atmosfera. O problema é, o homem lança tanto bióxido de carbono na atmosfera (seja por queimar combustíveis fósseis, seja pelo desmatamento) que ele talvez já tenha provocado a tendência de aquecimento do globo chamada de efeito estufa, que ameaça derreter as calotas polares e elevar o nível dos mares, inundando as regiões costeiras.
    Não é de admirar, então, que as pessoas, em todo o mundo, estejam envolvendo-se nessa crise.  Estão ajudando? Apresentou-se alguma solução? Que esperança existe para sair-se desta situação desoladora?

    A Generosidade das Florestas Tropicais

    Existe algum trecho de floresta pluvial equatorial próximo de onde vive? Considere alguns dos alimentos originários das florestas pluviais ao redor do mundo: arroz, milho, batata-doce, mandioca, cana-de-açúcar, bananas, laranjas, café, tomates, chocolate, abacaxis, abacates, baunilha, toranjas, uma variedade de castanhas (nozes), condimentos e chá. Bem a metade das plantações de alimentos do mundo se baseiam em plantas que vieram das florestas pluviais! E estes são apenas alguns dos alimentos.
      Considere os remédios: alcalóides provenientes de trepadeiras são usados como relaxantes musculares antes duma cirurgia; os ingredientes ativos da hidrocortisona para combater a inflamação, a quinina para combater a malária, a digitalina para tratar da insuficiência cardíaca, a diosgenina nas pílulas anticoncepcionais, e a ipeca para provocar o vômito, todos se derivam de plantas da floresta pluvial. Outras plantas se mostram promissoras para combater a AIDS e o câncer, bem como a diarréia, a febre, as mordidas de cobra, e a conjuntivite e outras doenças oculares. Não se sabe que outras curas poderiam ainda estar em reserva. Os cientistas somente examinaram menos de 1 por cento das espécies de plantas das florestas pluviais. Um botânico lamentava: “Estamos destruindo coisas que nem sequer sabemos que existem.”
      Ainda outros produtos advêm das florestas que desaparecem: látex, resinas, ceras, ácidos, álcoois, temperos, adoçantes, tinturas, fibras, tais como as usadas nos coletes salva-vidas, e a goma usada na fabricação da goma de mascar, bambu e rota — que em si mesmos constituem a base duma indústria ampla e global.

    Têm futuro as florestas?

    NA ILHA DE PÁSCOA, no Pacífico Sul, grandes cabeças de pedra se erguem sobre colinas verdejantes, voltadas diretamente para o mar. O povo que as construiu desapareceu há séculos. Na parte oeste dos Estados Unidos, as ruínas de prédios antigos, em isoladas áreas desérticas, constituem o único vestígio dum povo que desapareceu muito tempo antes de os homens brancos chegarem a aventurar-se por ali. Algumas terras bíblicas, em que a civilização e o comércio certa vez prosperavam, são agora desertos varridos pelo vento. Por quê?
    Em todos os três casos, parte da resposta pode ser o desmatamento. Alguns peritos acham que as pessoas tiveram de abandonar estas áreas por terem exterminado as florestas que havia ali. Sem árvores, o solo se exauriu, de modo que o homem foi adiante. Hoje, porém, o homem ameaça fazer a mesma coisa com todo o planeta. Fará mesmo? Será que nada pode impedir esse processo?
    Muitos estão tentando. Nos Himalaias, houve mulheres que, segundo se informa, abraçaram-se a árvores no esforço desesperado de impedir que os madeireiros as derrubassem. Na Malásia, moradores tribais das florestas formaram correntes humanas para impedir os madeireiros que chegavam, com sua maquinaria pesada.
    Os duzentos milhões de pessoas que vivem das florestas pluviais tem um interesse muito pessoal nessa crise. À medida que a civilização avança, as tribos nativas se recolhem cada vez mais para o interior das florestas, às vezes até se depararem com os colonos que avançam pelo outro lado. Muitas tribos são exterminadas pelas doenças trazidas pelos que chegam de fora. Outras, forçadas a adaptar-se ao mundo exterior, acabam ficando entre os pobres urbanos — alienados e dissolutos. Mas o mundo está despertando para a difícil situação deles. Uma disposição voltada para o ambientalismo já começou a empolgar o globo
    .
    Podem os Ambientalistas Modificar as Coisas?

    “Existem tanto o conhecimento como a tecnologia para salvar as florestas tropicais do mundo”, começa o livro Saving the Tropical Forests (Salvando as Florestas Tropicais). Este ponto tem sido demonstrado em parques em todo mundo. O Parque Nacional de Guanacaste, na Costa Rica, é dedicado ao replantio de amplos trechos das florestas. Tem-se plantado árvores aos milhões em países tais como o Quênia, a Índia, o Haiti e a China. Mas plantar árvores não é bem a mesma coisa que restaurar as florestas.
    Às vezes, o “reflorestamento” é, na realidade, a plantação comercial de uma única espécie de árvore, para ser cortada mais tarde. Isto dificilmente é a mesma coisa que o complexo ecossistema duma floresta pluvial. Ademais, alguns afirmam que uma floresta pluvial equatorial úmida jamais poderá ser restaurada em sua complexidade original. Não é de admirar que muitos ambientalistas insistam que preservar é melhor do que restaurar.
    Mas preservar não é tão fácil como parece. Se um trecho da floresta for pequeno demais, ele não sobreviverá. Alguns ambientalistas sugerem que, pelo menos, de 10 a 20 por cento das florestas pluviais do mundo deveriam servir de reservas florestais, se elas hão de manter sua rica diversidade. Mas, na atualidade, apenas 3 por cento das florestas pluviais da África acham-se protegidas. No Sudeste da Ásia, o total é de 2 por cento; na América do Sul, 1 por cento.
    E algumas dessas áreas só são protegidas no papel. Parques nacionais e reservas florestais fracassam, quando mal planejados ou mal administrados, ou quando autoridades corruptas desviam fundos dos parques para seus próprios bolsos. Alguns até ganham dinheiro por permitirem concessões de extração de madeira por baixo do pano. A inspeção humana também é reduzida. Na Amazônia, um único guarda estava designado a proteger uma área da floresta pluvial do tamanho da França.
    Os ambientalistas também instam a que se ensine aos lavradores a plantar sem exaurir o solo, de modo que não sejam obrigados a mudar-se do local e vir a derrubar outras partes da floresta. Alguns tem tentado cultivar ampla variedade de plantas num único campo, o que evita as pragas que se nutrem duma única espécie. Árvores frutíferas podem proteger o solo das chuvas tropicais. Outros reviveram uma técnica antiga. Eles escavam canais em torno de pequenos lotes plantados e colocam, nos lotes, a lama e as algas retiradas dos canais, como nutrientes para as plantações. Podem-se criar peixes nos canais, como fonte adicional de alimentos. Tais métodos já tiveram grande êxito em lotes experimentais.
    Mas ensinar as pessoas “como fazer” custa tempo e dinheiro, e exige perícia. As nações tropicais não raro tem demasiados problemas econômicos imediatos a resolver, e não fazem esse tipo de investimento a longo prazo. Mesmo que o conhecimento técnico fosse bem difundido, contudo, não solucionaria o problema. Como Michael H. Robinson escreve em Saving the Tropical Forests: “As florestas pluviais estão sendo destruídas, não por ignorância ou burrice, mas principalmente por causa da pobreza e da ganância.”

    A Raiz do Problema

    Pobreza e ganância. Parece que a crise de desmatamento deita suas raízes bem fundo no tecido da sociedade humana, muito mais profundamente do que as raízes das florestas pluviais penetram no fino solo tropical. Será a humanidade capaz de desarraigar tal problema?
    Uma reunião de cúpula de 24 nações, realizada em Haia, nos Países-Baixos, no ano passado, propôs a criação de uma nova autoridade no âmbito das Nações Unidas, a ser chamada de “Globe”. De acordo com o Jornal Financial Times, de Londres, a “Globe” disporia “duma gama sem precedentes de poderes para estabelecer e tornar obrigatórios padrões ambientais”. Embora as nações tivessem de abrir mão de parte de sua estimada soberania nacional para que a “Globe” dispusesse de qualquer poder real, alguns afirmam que é inevitável que uma organização assim venha a surgir algum dia. Apenas uma agência unificada, global, poderia lidar com problemas globais.
    Isso parece bem razoável. Mas que governo ou agência humana pode erradicar a ganância e a pobreza? Que governo já fez isso? Com demasiada freqüência, eles se baseiam na ganância, de modo que perpetuam a pobreza. Não, se havemos de esperar que alguma agência humana resolva a crise de desmatamento, então as florestas não têm futuro; nem, efetivamente, os humanos.
    Mas considere o seguinte: Não fornecem as florestas evidência de que foram projetadas por um ser imensamente inteligente? Sim, elas fornecem! Das raízes às folhas, as florestas pluviais declaram que são obra de um Magistral Arquiteto.
    Bem, então, será que este Grande Arquiteto permitirá que o homem elimine todas as florestas pluviais e arruíne a nossa Terra? Uma notável profecia da Bíblia responde diretamente a esta pergunta. Reza: “Mas as nações ficaram furiosas, e veio o . . . próprio furor [de Deus] e o tempo designado . . . para [Ele] arruinar os que arruínam a terra.” — Revelação 11:18.
    Há duas coisas notáveis nessa profecia. Primeiro, ela aponta para o tempo em que o homem seria realmente capaz de arruinar a Terra toda. Quando tais palavras foram escritas, há cerca de dois mil anos, o homem não conseguiria arruinar a Terra, assim como não conseguiria voar até a lua. Mas, atualmente, ele consegue ambas as coisas. Em segundo lugar, a profecia responde à pergunta de se o homem arruinará por completo a Terra — com um retumbante Não!
    Deus fez o homem para cuidar da Terra e cultivá-la, não para deixá-la desmatada. No antigo Israel, ele estabeleceu limites sobre o desmatamento que seu povo realizaria, ao conquistar a Terra Prometida. (Deuteronômio 20:19, 20) Ele promete que toda a humanidade no futuro próximo viverá em harmonia com o meio ambiente. — 1 João 2:17; Jeremias 10:10-12.
    A Bíblia oferece esperança, esperança de uma época em que o homem cultivará a Terra, transformando-a num paraíso, em vez de empregar tratores para transformá-la num deserto, ele a reparará em vez de devastá-la, cuidará dela de maneira muito previdente, em vez de gananciosamente esgotá-la em troca de lucro momentâneo. As florestas têm futuro. O corrupto sistema de coisas que está arruinando a elas e a toda a Terra é que não tem nenhum futuro.

    Fonte: (Despertai 22/03/1990)