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    Prefeitura de Lages, SC


     

    A água está acabando?

    “O acesso a fontes de água confiáveis, saudáveis e suficientes é um requisito fundamental para a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento socioeconômico de toda a humanidade. Continuamos agindo como se a água doce fosse um recurso inesgotável. Mas não é.” — Kofi Annan, Secretário-geral Das Nações Unidas.

    Toda quinta-feira, ao meio-dia, nos últimos mil anos, um tribunal ímpar se reúne na cidade espanhola de Valência. Sua tarefa é resolver disputas sobre água.
    Os agricultores da fértil planície de Valência dependem da irrigação e isto exige muita água, que sempre foi escassa nessa parte da Espanha. Os agricultores podem recorrer a esse tribunal da água sempre que acharem que estão sendo lesados. As disputas por água não são novidade, mas raramente são resolvidas de forma tão imparcial quanto em Valência.
    Há quase 4.000 anos, houve um desentendimento violento entre pastores pelo acesso a um poço perto de Berseba, em Israel. (Gênesis 21:25) Desde então, os problemas com a água no Oriente Médio se agravaram muito. Pelo menos dois líderes destacados da região disseram que a água é a questão que poderia levá-los a declarar guerra a um país vizinho.
    Em países semi-áridos, a água sempre foi um assunto delicado. A razão é simples: a água é vital. Como Kofi Annan disse, “a água doce é preciosa: não podemos viver sem ela. É sem igual: não temos substitutos para ela. E é sensível: a atividade humana tem um profundo impacto sobre a quantidade e a qualidade de água doce disponível”.
    Hoje como nunca antes, tanto a quantidade quanto a qualidade da água doce do planeta estão ameaçadas. Não podemos nos deixar enganar pelo fato de que, em algumas regiões afortunadas, ela é aparentemente abundante.

    As reservas estão diminuindo

    “Uma das grandes contradições da natureza humana é que só damos valor às coisas quando elas se tornam escassas”, diz Elizabeth Dowdeswell, subsecretária-geral da ONU. “Só entendemos o valor da água quando o poço seca. E os poços estão secando, não só em regiões sujeitas a secas, mas também em lugares que em geral não são associados à escassez de água.”
    Pessoas que diariamente enfrentam a escassez de água entendem bem o problema. Todo dia de manhã, Asokan, que trabalha num escritório em Madras, na Índia, tem de se levantar duas horas antes do amanhecer. Ele vai a uma bica comunitária, que fica a cinco minutos de caminhada, carregando cinco baldes. Visto que a água só está disponível das 4 às 6 da manhã, ele precisa entrar na fila cedo. A água que ele leva para casa nos baldes tem de durar o dia inteiro. Muitos outros indianos — e mais um bilhão de pessoas no planeta — não têm tanta sorte. Eles não têm bica nem rio ou poço perto de casa.
    Entre esses está Abdullah, um menino que vive na região do Sahel, na África. A placa na estrada que vai para seu povoado diz que esse é um oásis; mas a água desapareceu há muito tempo e mal se vê uma árvore. A tarefa de Abdullah é ir buscar água para a família em um poço que fica a cerca de um quilômetro de distância.
    Em algumas partes do mundo, a demanda por água potável já excede as reservas. A razão é simples: grande parte da humanidade vive em regiões áridas ou semi-áridas, onde a água sempre foi escassa. Segundo o Instituto Ambiental de Estocolmo, um terço da população mundial vive em regiões que já sofrem de escassez de água de grau moderado a grave. E a demanda por água tem um aumento mais de duas vezes superior ao crescimento populacional.
    O suprimento de água, por outro lado, é basicamente fixo. Poços mais profundos e novos reservatórios às vezes trazem alívio temporário, mas a quantidade de chuva que cai na terra e a de água depositada no subsolo permanece essencialmente inalterada. Portanto, os meteorologistas calculam que dentro de 25 anos a quantidade de água disponível para cada pessoa na Terra deve cair para a metade.

    O efeito sobre a saúde e a produção de alimentos

    Como a escassez de água afeta as pessoas? Primeiro, prejudica a saúde. Não que elas morram de sede. O problema é que elas ficam doentes devido à qualidade ruim da água disponível para preparar a comida e para beber. Elizabeth Dowdeswell diz: “Cerca de 80% de todas as doenças e mais de um terço de todas as mortes em países em desenvolvimento são causadas por água contaminada.” Nos países semi-áridos do mundo em desenvolvimento, muitos suprimentos de água estão poluídos por dejetos humanos ou animais, pesticidas, fertilizantes ou substâncias químicas industriais. Famílias pobres muitas vezes não têm outra escolha a não ser usar água contaminada.
    Assim como o nosso corpo precisa de água para eliminar resíduos, é preciso muita água para o saneamento apropriado. A maioria não tem essa água à disposição. O número de pessoas sem saneamento apropriado aumentou de 2,6 bilhões, em 1990, para 2,9 bilhões, em 1997. Isso é quase metade da população do planeta. E o saneamento é literalmente uma questão de vida ou morte. Em uma declaração conjunta, Carol Bellamy e Nitin Desai, funcionários das Nações Unidas, alertaram: “Quando as crianças não têm água apropriada para beber e para higiene, praticamente todo aspecto de sua saúde e desenvolvimento está ameaçado.”
    A produção de alimentos depende da água. É claro que muitas plantações são irrigadas pela chuva, mas em anos recentes a irrigação artificial se tornou vital para alimentar a população mundial, que não pára de crescer. Hoje, 36% das plantações do mundo dependem de irrigação. Mas a área total de culturas irrigadas atingiu seu ponto máximo cerca de 20 anos atrás e desde então vem diminuindo constantemente.
    Se na sua casa sai água em abundância da torneira e há um vaso sanitário que convenientemente elimina os dejetos, pode ser difícil acreditar que as reservas de água no mundo estejam mesmo tão ameaçadas. Mas lembre-se de que apenas 20% da humanidade têm acesso a esses luxos. Na África, muitas mulheres gastam seis horas por dia pegando água, que muitas vezes está contaminada. Essas mulheres entendem muito melhor a dura realidade: água limpa e pura é escassa e está ficando cada vez mais escassa.
    Será que a tecnologia é capaz de resolver o problema? É possível explorar de forma mais econômica os recursos hídricos? Para onde foi toda a água? Os próximos artigos vão tentar responder a essas perguntas.

    ONDE ESTÁ A ÁGUA DOCE?
    Cerca de 97% da água da Terra encontra-se nos oceanos e é salgada demais para ser utilizada para beber, para irrigação ou na indústria.
    Apenas cerca de 3% da água da Terra é doce. Mas a maior parte dessa água não está facilmente acessível, como mostra o gráfico ao lado.

    (Para o texto formatado, veja a publicação)
    Gelo e neves eternas 68,7%
    Lençóis de água subterrâneos 30,1%
    Permafrost, gelo subterrâneo 0,9%
    Lagos, rios  e pântanos 0,3%

    A CRISE DA ÁGUA

    CONTAMINAÇÃO: na Polônia, apenas 5% das águas fluviais são potáveis e 75% delas estão tão poluídas que não servem nem para uso industrial.
    ▪ ABASTECIMENTO URBANO: na Cidade do México, a segunda maior metrópole do mundo, o lençol freático, que fornece 80% da água para a cidade, está baixando sem parar. Bombeia-se 50% mais água do que pode ser reposta pelos processos naturais. Pequim, a capital da China, sofre de problemas similares. Seu aquífero diminui mais de um metro por ano e um terço dos poços secaram.
    ▪ IRRIGAÇÃO: o grande aquífero de Ogallala, nos Estados Unidos, está tão baixo que, por falta de água, diminuiu em um terço a extensão de terras irrigadas no noroeste do Texas. Tanto a China como a Índia, o segundo e o terceiro maiores produtores de alimentos, enfrentam uma crise semelhante. No Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, a irrigação fez o lençol freático baixar mais de 23 metros em 10 anos.
    ▪ RIOS QUE SECAM: durante a estação seca, o enorme Ganges não chega mais ao mar, porque toda sua água é desviada antes. O mesmo acontece com o rio Colorado, na América do Norte.

    Para onde foi toda a água?

    Cherrapunji, na Índia, é um dos lugares mais úmidos da Terra. Durante a estação das monções, 9.000 milímetros de chuva encharcam suas colinas aos pés do Himalaia. Por incrível que pareça, porém, Cherrapunji também sofre de escassez de água.

    Visto que sobrou pouca vegetação para reter a água, ela escoa quase tão rápido quanto cai do céu. Dois meses depois de acabarem as chuvas de monção, a água começa a escassear. Anos atrás, Robin Clarke, no livro Water: The International Crisis (Água: A Crise Internacional), descreveu Cherrapunji como “o deserto mais úmido da Terra”.
    Não muito distante de Cherrapunji está Bangladesh, um país densamente povoado, localizado em terras mais baixas. Bangladesh recebe o grosso da força das águas das monções que descem em cascata das colinas desmatadas da Índia e do Nepal. Em alguns anos, dois terços do país ficam inundados. Mas depois que a inundação acaba, o rio Ganges vira um riacho e a terra fica ressecada. Mais de 100 milhões de pessoas em Bangladesh enfrentam esse cruel ciclo anual de inundações e secas. Para piorar, a água dos poços do país está contaminada com arsênico, que talvez já tenha envenenado milhões de pessoas.
    Em Nukus, no Usbequistão, perto do mar de Aral, o problema não é o arsênico, mas o sal, que se acumula em crostas brancas nos pés de algodão e impede seu crescimento. O sal vem à superfície devido ao subsolo encharcado. Esse problema, chamado salinização, não é novo. A agricultura da Mesopotâmia entrou em declínio 4.000 anos atrás exatamente pela mesma razão. Uma combinação de irrigação excessiva e pouca drenagem faz com que os sais do solo se acumulem na superfície. Para conseguir uma boa colheita, é preciso usar cada vez mais água doce. Mas com o tempo o solo se torna estéril durante gerações.

    Para onde vai toda a água?

    Infelizmente, grande parte da chuva cai em aguaceiros torrenciais, que além de causar inundações, fazem com que a água corra rapidamente da terra para o mar. Também, alguns lugares recebem muita chuva; outros recebem pouca. Há registros de mais de 26.000 milímetros de chuva em um período de 12 meses em Cherrapunji, ao passo que o deserto de Atacama, no norte do Chile, pode passar vários anos sem chuvas significativas.
    Além disso, a maioria das pessoas vive onde não há abundância de água. Por exemplo, relativamente poucas pessoas vivem nas regiões tropicais da África e da América do Sul onde chove bastante. O enorme rio Amazonas despeja no oceano Atlântico 15% da precipitação anual no globo, mas como na região a população é pequena, precisa-se de muito pouca água para consumo humano. Por outro lado, uns 60 milhões de pessoas moram no Egito, onde a precipitação é mínima e praticamente todas as suas necessidades hídricas têm de ser supridas pelo rio Nilo, que já está superexplorado.
    Até alguns anos atrás, essas disparidades nas reservas de água não causavam problemas muito graves. Segundo certa pesquisa, em 1950 não havia lugar na Terra onde as reservas de água estivessem muito baixas ou extremamente baixas. Mas essa época de abundância de água é coisa do passado. Em regiões áridas do Norte da África e da Ásia Central, a quantidade de água disponível por pessoa caiu para um décimo do que era em 1950.
    Além do crescimento populacional e da baixa precipitação em muitas regiões densamente povoadas, a demanda por água cresceu por outras razões. No mundo moderno, o progresso e a prosperidade andam de mãos dadas com um abastecimento confiável de água.

    Aumenta a demanda por água

    Se você mora num país industrializado, sem dúvida já notou que as fábricas se aglomeram ao redor de grandes rios. A razão é simples: a indústria precisa de água para produzir quase tudo, de computadores a clipes de papel. A indústria alimentícia também usa uma quantidade incrivelmente grande de água. Usinas elétricas têm um apetite insaciável por água e se localizam perto de rios ou lagos.
    A agricultura precisa de ainda mais água. Em muitos lugares há muito pouca precipitação ou ela é tão irregular que não garante boas colheitas, de modo que a irrigação parecia ser a solução ideal para alimentar os famintos do planeta. Em resultado dessa dependência das plantações irrigadas, a agricultura consome grande parte do suprimento de água doce do planeta.
    Além disso, o consumo doméstico de água aumentou. Durante os anos 90, um número astronômico de novos habitantes de cidades — 900 milhões de pessoas — passou a precisar de saneamento adequado e de acesso à água potável. As fontes tradicionais de água, como rios e poços, já não são suficientes para abastecer cidades grandes. A Cidade do México, por exemplo, agora tem de trazer água por quase 120 quilômetros de tubulações e bombeá-la por cima de uma cadeia de montanhas que se ergue 1.200 metros acima do nível da cidade. A metrópole se tornou “um tipo de polvo, cujos tentáculos se espalham a partir da cidade em busca de água”, diz Dieter Kraemer em seu relatório Water: The Life-Giving Source (Água: A Fonte da Vida).
    De modo que a indústria, a agricultura e as áreas urbanas exigem cada vez mais água. Muitas de suas necessidades foram satisfeitas, por enquanto, pela água tirada das reservas subterrâneas do planeta. Os aqüíferos estão entre os principais depósitos de água doce da Terra. Mas não são inesgotáveis. Esses depósitos de água são como dinheiro no banco: não dá para continuar fazendo saques se a pessoa faz poucos depósitos. Mais cedo ou mais tarde, é preciso prestar contas.

    Uso e abuso da água subterrânea

    Quando escavamos um poço, tiramos água do lençol subterrâneo. O relatório Groundwater: The Invisible and Endangered Resource (Água Subterrânea: O Recurso Invisível e Ameaçado), do Fundo das Nações Unidas para a Infância, calcula que metade da água para uso doméstico e para irrigação vem dessa fonte. Visto que a água subterrânea em geral é menos poluída do que a água de superfície, ela também fornece boa parte da água potável, tanto nas cidades como no campo. Se as “retiradas” fossem moderadas, o nível dos reservatórios subterrâneos de água permaneceria constante, pois são regularmente renovados pela chuva que lentamente se infiltra até eles. Mas há décadas a humanidade extrai muito mais água do que o ciclo natural consegue repor.
    O resultado é que o nível do lençol de água subterrâneo fica mais baixo. Com o passar do tempo, é preciso escavar cada vez mais fundo para alcançá-lo, tornando o processo economicamente inviável ou pouco prático. Quando os poços secam, ocorrem tragédias econômicas e humanas, como as que já começam a acontecer na Índia. Visto que a produção de alimentos para um bilhão de pessoas que vivem nas planícies centrais da China e da Índia depende da água subterrânea, as perspectivas são preocupantes.
    A diminuição do lençol subterrâneo é agravada pela contaminação causada por fertilizantes, dejetos humanos e animais, e substâncias químicas industriais que se infiltram nele. “Depois que o aqüífero é contaminado, as medidas para recuperá-lo costumam ser demoradas, caras e até inviáveis”, explica um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial. “A lenta infiltração de poluentes já foi chamada de ‘bomba-relógio química’. Ela ameaça a humanidade.”
    A grande ironia é que a água bombeada para fora dos aquíferos subterrâneos às vezes acaba arruinando as terras irrigadas. Em países áridos ou semi-áridos, boa parte das terras irrigadas é afetada agora pela salinização. Na Índia e nos Estados Unidos — dois dos maiores produtores de alimentos do mundo — 25% das terras irrigadas já foram gravemente afetadas.

    Poupar para não faltar

    Apesar de todas essas dificuldades, a situação não seria tão grave se a preciosa água do planeta fosse usada com mais responsabilidade. Métodos ineficazes de irrigação muitas vezes desperdiçam 60% da água antes de ela atingir as plantações. Maior competência — usando tecnologias disponíveis — poderia reduzir pela metade o consumo industrial de água. E até o consumo urbano poderia ser reduzido em 30% se as tubulações quebradas fossem consertadas rapidamente.
    Para as medidas de conservação de água darem certo, é preciso que haja métodos apropriados e que as pessoas estejam dispostas a aplicá-los. Existem bons motivos para crermos que a preciosa água do nosso planeta será preservada para as gerações futuras? O artigo final vai tratar dessa questão.

    Veja o artigo “Cherrapunji: um dos lugares mais úmidos da Terra”, na Despertai! de 8 de maio de 2001.

    ÁGUA: O “COMBUSTÍVEL” DO MUNDO
      Praticamente todos os processos industriais consomem grandes quantidades de água.
    ▪ Para produzir uma tonelada de aço, consomem-se 280 toneladas de água.
    ▪ Para fazer um quilo de papel, é preciso usar até 700 quilos de água (se a fábrica não a reciclar).
    ▪ Para fazer um carro típico dos Estados Unidos, o fabricante usa 50 vezes o peso do carro em água.
    A agricultura exige tanto quanto a indústria em termos de água, em especial quando se cria gado em regiões semi-áridas.
    ▪ Para produzir um quilo de carne do gado de corte da Califórnia são necessários quase 20.500 litros de água.
    ▪ Para processar apenas um frango congelado, gastam-se pelo menos 26 litros de água.

    ONDE SE USA A ÁGUA?

    Uso agrícola 65%
    Uso industrial 25%
    Uso doméstico 10%

    Em busca da água que sustenta a vida

    HÁ MAIS de 2.000 anos, no deserto da Arábia, uma cidade próspera de 30.000 habitantes atingiu uma posição de destaque. Apesar do clima inclemente da região, cuja precipitação média é de apenas 150 milímetros por ano, os cidadãos de Petra aprenderam a viver com pouca água. A cidade cresceu e prosperou.

    Os habitantes de Petra, os nabateus, não tinham bombas de água elétricas nem construíram represas enormes. Mas sabiam coletar e conservar a água de que dispunham. Uma enorme rede de pequenos reservatórios, diques, canais e cisternas permitia que eles canalizassem a água cuidadosamente coletada para ser usada na cidade e nos seus pequenos terrenos. Não desperdiçavam uma gota sequer. Seus poços e cisternas foram tão bem construídos que até hoje são usados pelos beduínos.
    “A hidrologia é a beleza oculta de Petra”, diz um hidrólogo, maravilhado. “Eles [os nabateus] eram gênios.” Em anos recentes, especialistas de Israel procuraram aproveitar a habilidade dos nabateus, que também tinham plantações no deserto do Neguev, onde a precipitação raramente passa dos 100 milímetros por ano. Agrônomos examinaram os restos de milhares de pequenas propriedades rurais daquele povo, cujos donos habilmente canalizavam as chuvas do inverno para seus pequenos campos em terraços.
    As lições aprendidas dos nabateus já estão ajudando os agricultores em países assolados pela seca na região do Sahel, na África. Mas métodos modernos de conservação de água também são eficientes. Em Lanzarote, uma das ilhas Canárias, localizada ao largo da costa da África, os agricultores aprenderam a cultivar uvas e figos em lugares onde quase não chove. Eles plantam as videiras ou figueiras no fundo de cavidades redondas e depois cobrem o solo com uma camada de cinza vulcânica para evitar a evaporação. O orvalho que escorre até as raízes é o suficiente para garantir uma boa colheita.

    Soluções simples

    Casos similares de adaptação a climas áridos são encontrados em todo o mundo, por exemplo, entre o povo bishnoi, que vive no deserto de Thar, na Índia; entre as mulheres turkanas, no Quênia; e entre os índios navajos no Arizona, EUA. Suas técnicas para coletar a água da chuva, aprendidas ao longo de séculos, revelaram-se muito mais confiáveis para atender às necessidades agrícolas do que métodos de alta tecnologia.
    O século 20 foi a era da construção de represas. Rios enormes foram domados e desenvolveram-se sistemas de irrigação faraônicos. Um cientista calcula que 60% dos rios e riachos do mundo foram controlados de uma forma ou de outra. Embora esses projetos tenham trazido alguns benefícios, os ecologistas falam do dano ao meio ambiente, sem mencionar o efeito sobre milhões de pessoas que perderam seus lares.
    Além disso, apesar das boas intenções, poucas vezes esses planos beneficiam os agricultores que precisam desesperadamente de água. Comentando projetos de irrigação na Índia, o ex-primeiro-ministro Rajiv Gandhi disse: “Gastamos rios de dinheiro durante 16 anos. O povo não recebeu nada em troca: nem irrigação, nem água, nem aumento da produção, nem ajuda para o seu cotidiano.”
    As soluções simples, por outro lado, se mostraram mais úteis e menos danosas para o meio ambiente. Os seis milhões de pequenos açudes e represas que foram construídos por comunidades locais na China tiveram muito êxito. Em Israel, teve-se a idéia engenhosa de reutilizar no saneamento e depois na irrigação a água usada para lavar.
    Outra solução prática é a irrigação por gotejamento, que conserva o solo e usa apenas 5% da água necessária nos métodos tradicionais. O uso sensato da água também inclui escolher plantas próprias de clima seco, como sorgo e painço, em vez de plantas que precisam de muita irrigação, como cana-de-açúcar e milho.

    O que é preciso para ter êxito

    Para solucionar a crise da água — e a maioria dos problemas ambientais —, é preciso uma mudança de atitude. As pessoas têm de aprender a cooperar, em vez de ser egoístas; a fazer sacrifícios razoáveis quando necessário e estar decididas a cuidar da Terra para seus futuros habitantes. Nesse respeito, Sandra Postel, no livro Last Oasis—Facing Water Scarcity (O Último Oásis: Como Enfrentar a Escassez de Água), explica: “Precisamos de uma ética da água, um guia de conduta correta em face das decisões complexas que temos de tomar em relação a sistemas naturais que não conseguimos entender plenamente.”
    É claro que essa “ética da água” não pode ser adotada apenas localmente. Os países e os vizinhos têm de cooperar, visto que rios não respeitam fronteiras nacionais. “As preocupações sobre a quantidade e a qualidade da água — que ao longo da História foram tratadas em separado — devem ser agora encaradas como uma questão global”, diz Ismail Serageldin, no seu relatório Beating the Water Crisis (Como Vencer a Crise da Água).
    Mas conseguir que as nações tratem de assuntos globais não é tarefa fácil, conforme admite o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. “No atual mundo globalizado”, diz ele, “os mecanismos existentes para ação em âmbito global estão num estágio pouco mais do que embrionário. Já está na hora de darmos um sentido mais concreto à idéia de ‘comunidade internacional’”.
    É óbvio que um suprimento adequado de água potável — embora vital — não é tudo o que se precisa para levar uma vida feliz e saudável. Os humanos precisam primeiro reconhecer sua obrigação para com Aquele que providenciou tanto a água como a própria vida. (Salmo 36:9; 100:3) E em vez de cegamente exaurir os recursos da Terra, precisam ‘cultivá-la e tomar conta dela’, como o Criador orientou que o primeiro casal fizesse. — Gênesis 2:8, 15; Salmo 115:16.

    Água de um tipo superior

    Visto que a água é vital, não é de admirar que na Bíblia ela seja usada em sentido simbólico. De fato, para desfrutar a vida como ela deveria ser, temos de reconhecer a fonte dessa água simbólica. Precisamos aprender também a ter uma atitude semelhante à da mulher do primeiro século que pediu a Jesus Cristo: “Senhor, dá-me desta água.” (João 4:15) Veja o que aconteceu.
    Jesus parou junto a um poço profundo perto da atual cidade de Nablus, evidentemente o mesmo poço hoje visitado por pessoas de todo o mundo. Naquela ocasião, uma samaritana também veio até o poço. Como muitas mulheres do primeiro século, ela sem dúvida ia regularmente lá para abastecer sua casa de água. Mas Jesus disse que poderia lhe dar “água viva”, uma fonte de água que nunca se esgotaria. — João 4:10, 13, 14.
    Naturalmente, a mulher ficou interessada. Mas é claro que a “água viva” de que Jesus falou não era água literal. Ele tinha em mente as provisões espirituais que permitiriam às pessoas viver para sempre. Porém, a água simbólica e a literal têm algo em comum: precisamos de ambas para desfrutar a vida plenamente.
    Em mais de uma ocasião, Deus solucionou a falta de água literal entre seu povo. Ele forneceu milagrosamente água para uma grande multidão de refugiados israelitas que atravessavam o deserto do Sinai a caminho da Terra Prometida. (Êxodo 17:1-6; Números 20:2-11) Eliseu, profeta de Deus, purificou o poço de Jericó que estava contaminado. (2 Reis 2:19-22) E quando um restante de israelitas arrependidos voltou de Babilônia para sua pátria, Deus os guiou à ‘água no ermo’. — Isaías 43:14, 19-21.
    Nosso planeta precisa hoje urgentemente de um suprimento inesgotável de água. Visto que o Criador, Jeová Deus, solucionou problemas de falta de água no passado, será que não fará o mesmo no futuro? A Bíblia nos assegura que sim. Descrevendo as condições debaixo de seu Reino prometido, Deus diz: “Em morros calvos abrirei rios, e no meio dos vales planos, mananciais. Farei do ermo um banhado de juncos e da terra árida, nascentes de água . . . a fim de que as pessoas ao mesmo tempo vejam, e saibam, e atentem, e tenham perspicácia, que a própria mão de Jeová fez isso.” — Isaías 41:18, 20.
    A Bíblia promete que, quando chegar esse tempo, as pessoas “não terão fome, nem terão sede”. (Isaías 49:10) Graças a uma nova administração global, a crise da água será definitivamente solucionada. Essa administração — o Reino, pelo qual Jesus nos ensinou a orar — agirá “por meio do juízo e por meio da justiça, desde agora e por tempo indefinido”. (Isaías 9:6, 7; Mateus 6:9, 10) Em resultado disso, as pessoas de toda a Terra finalmente se tornarão uma verdadeira comunidade internacional. — Salmo 72:5, 7, 8.
    Se procurarmos agora a água que sustenta a vida, podemos esperar ver o dia em que haverá bastante água para todos.

    Fonte: (Despertai 22/06/2001)